Estudo detalhado da parábola do filho pródigo em Lucas 15. Análise versículo por versículo sobre arrependimento, perdão e o amor incondicional de Deus pelos perdidos.
A PARÁBOLA DO FILHO PRÓDIGO E O IRMÃO MAIS VELHO DO FILHO PRÓDIGO:
No Capítulo 15 do Evangelho de Lucas, Cristo se mostra aberto a publicanos e pecadores, o que ele explica na Parábola da Ovelha Perdida, da Moeda Perdida, e também na Parábola do Filho Pródigo, nos versos 11 ao 32, objeto do nosso estudo.
Antes de contar as três parábolas, o Capítulo 15 começa da seguinte forma: Aproximavam-se de Jesus todos os publicanos e pecadores para o ouvir. E murmuravam os fariseus e os escribas, dizendo: Este recebe pecadores e come com eles. Lucas 15:1-2
Os publicanos eram os cobradores de impostos; judeus que estavam a serviço do Império Romano. Os publicanos eram vistos pelo povo como traidores que extorquiam os próprios irmãos. E os pecadores eram as pessoas moralmente marginalizadas e de má reputação na sociedade. Essas pessoas não possuíam um padrão de vida aprovado pelos religiosos da época, e, por isso, elas eram excluídas por eles.
Aos judeus era recomendado que evitassem ao máximo ter contato com essas duas classes de pessoas. Na verdade os rabinos nem mesmo as ensinavam. No entanto, Jesus fazia diferente.
Jesus contrariava aquela religiosidade hipócrita. O Mestre não apenas tinha contato com aquelas pessoas, mas também comia com elas; e mais além, Ele as buscava. Foi assim com Mateus, um publicano escolhido para compor o grupo dos doze apóstolos.
Esse tipo de comportamento escandalizava os fariseus e os doutores da Lei. Eles ficavam indignados, e frequentemente questionavam Jesus acerca disto. O capítulo 15 do Evangelho de Lucas foi uma dessas ocasiões.
Os rabinos da época concordavam que Deus recebia o pecador arrependido. Mas eles não compreendiam que é o próprio Deus quem chama tais pecadores.
As três parábolas contadas no Capítulo 15 do Evangelho de Lucas transmitem uma mensagem central: O extraordinário amor de Deus pelos perdidos. Esse certamente é o ensinamento principal da Parábola do Filho Pródigo.
Agora vamos analisar versículo por versículo da Parábola:
Continuou: Certo homem tinha dois filhos; Lucas 15:11
V.11: A terceira parábola contada por Jesus não exemplifica com ovelhas ou moedas perdidas, mas usa o exemplo de um filho perdido; ou seja, uma conexão familiar que serve para tornar a parábola mais intima e pessoal. Com relação aos três personagens apresentados na parábola, podemos entender que o pai representa a Deus; o filho mais novo representa os publicanos e pecadores; e o filho mais velho os escribas e fariseus.
Contudo, a parábola permanece atual nos dias de hoje. Alguns podem se identificar com o comportamento do filho mais jovem, enquanto que outros com o comportamento do filho mais velho. É comum vermos essa parábola sendo usada apenas com ênfase no filho mais novo, geralmente aplicada àqueles que afastaram de Deus. Porém, Jesus dá o mesmo destaque ao comportamento do filho primogênito, como veremos ao final
V.12: O filho mais jovem pede a herança antecipadamente ao pai, tratando-o com desrespeito, como se o pai já estivesse falecido. A herança é sim um direito, porém, neste caso, estava sendo exercido fora do tempo. Este filho quebra princípios fundamentais ao antecipar aquilo que não lhe convinha naquele momento. A divisão proposta pelo filho era complicada, pois parte da propriedade deveria ser vendida e liquidada.
Além disso, ele não quis saber se o pai contava com ele para ampará-lo na velhice. Seus planos eram mais importantes. Ele amava mais a si mesmo do que ao pai. Quebrou os mandamentos de Deus. Existe uma ruptura dos princípios moral, legal e temporal. O jovem toma tal atitude movido por sentimentos carnais de um coração enganoso. Seu coração havia sido tomado pelas coisas ilusórias e passageiras do mundo, pela concupiscência da carne. O coração é mais enganoso que qualquer outra coisa e sua doença é incurável. Quem é capaz de compreendê-lo? Jeremias 17:9.
Passados não muitos dias, o filho mais moço, ajuntando tudo o que era seu, partiu para uma terra distante e lá dissipou todos os seus bens, vivendo dissolutamente. Lucas 15:13
V.13: O filho passa a viver em uma terra distante de forma dissoluta, segundo as suas próprias vontades, segundo o seu querer. Começa a gastar o dinheiro de modo insensato e libertino. Ele se afastou o máximo que podia do seu pai; se distanciou do único lugar que lhe proporcionava segurança e paz interior.
A palavra “dissolutamente” remete a ideia de decomposição, degeneração progressiva, morte espiritual. O filho pensava que poderia encontrar felicidade neste estilo desregrado de vida, voltado aos prazeres passageiros. Talvez pensasse que as regras do pai o prendesse; quando, na realidade, as regras do pai (mandamentos) eram justamente para evitar que ele chegasse em um estágio lastimável. Justamente para evitar um estado de miséria espiritual e decadência moral.
Depois de ter consumido tudo, sobreveio àquele país uma grande fome, e ele começou a passar necessidade. Lucas 15:14
V.14: Ele perde tudo e começa a passar necessidade. Devemos nos lembrar de que todas as escolhas têm consequências. E muitas vezes, dependendo da escolha, as consequências são desastrosas. Muitas vezes somos nós mesmos que nos colocamos em um deserto, por nos afastarmos do Pai. Havia uma cegueira espiritual na vida daquele jovem. O seu coração havia se tornado endurecido, insensível. Estava experimentando um declínio em sua vida. Quanto mais nos distanciamos de Deus, mais vulneráveis estamos, mais próximos à zona de risco.
O caráter daquele jovem estava sendo destruído. Ele não mais sentia qualquer alegria, não tinha segurança, e muito menos um proposito de vida. O desejo mundano é passageiro, é ilusão, ele leva embora a alegria, ele arruína a vida e traz solidão.
Então, ele foi e se agregou a um dos cidadãos daquela terra, e este o mandou para os seus campos a guardar porcos. Lucas 15:15 V.15: Consequências de uma vida dissoluta, longe de Deus.
(1) O jovem experimenta a perda da sua dignidade por viver ao seu bel prazer;
(2) Tudo o que ele possuía havia sido destruído, consumido;
(3) Não podia mais contar com a presença do Pai, porque ele mesmo havia se distanciado.
Precisamos entender que não é Deus que se distancia de nós, mas somos nós quem nos distanciamos de Deus. Não é o pai que se distanciou do filho; foi o filho que se distanciou do pai, por achar que uma vida irresponsável e sem regras, seria melhor. Por mais óbvio que seja esse engano, quase todas as pessoas incorrem nele.
Visto que desprezaram o conhecimento e recusaram o temor do Senhor, não quiseram aceitar o meu conselho e fizeram pouco caso da minha advertência, comerão do fruto da sua conduta e se fartarão de suas próprias maquinações. Pois a inconstância dos inexperientes os matará, e a falsa segurança dos tolos os destruirá mas quem me ouvir viverá em segurança e estará tranquilo, sem temer nenhum mal. Provérbios 1:29-33
Ali, desejava ele fartar-se das alfarrobas que os porcos comiam; mas ninguém lhe dava nada. Lucas 15:16
V.16: Ele chega ao pior estágio da sua vida. Antes não sabia o que era passar por uma situação tão desesperadora, por uma angustia tão grande. O pecado pode até parecer bom no início, mas logo o pecado mostra as suas garras. Embora no princípio possa ser doce como mel, na medida em que o pecado foi abraçando o jovem, vemos seu verdadeiro propósito, que é distanciar o ser humano de Deus, e levá-lo ao caminho da tristeza, da angustia, da depravação, e da perdição.
Agora o pecado já não estava mais doce, não estava mais agradável, e sim amargo como o fel. A Bíblia diz que o salário do pecado é a morte. Quando o jovem se vê, estava cuidando de porcos e desejando comer as alfarrobas dos porcos. Uma ocupação humilhante para qualquer israelita que se tornava cerimonialmente impuro. Os rabinos consideravam as pessoas que cuidavam de porcos amaldiçoadas.
Podemos comparar o pecado aos lábios da mulher imoral: “Pois os lábios da mulher imoral destilam mel; sua voz é mais suave que o azeite, mas no final é amarga como fel, afiada como uma espada de dois gumes. Os seus pés descem para a morte; os seus passos conduzem diretamente para a sepultura.” Provérbios 5:3-5
Mesmo que o mal seja doce em sua boca e ele o esconda sob a língua, mesmo que o retenha na boca para saboreá-lo, ainda assim a sua comida azedará no estômago; e será como veneno de cobra em seu interior. Ele vomitará as riquezas que engoliu; Deus fará seu estômago lançá-las fora. Jó 20:12-15
Então, caindo em si, disse: Quantos trabalhadores de meu pai têm pão com fartura, e eu aqui morro de fome! Lucas 15:17
V.17: “Caindo em si.” Começa a se lembrar de onde caiu. No original grego seria algo como “recobrou seu senso.” O arrependimento eficaz tem início com uma mudança na mente. O jovem começa a refletir de onde ele saiu, e onde se encontrava atualmente. Volta o pensamento a casa do seu pai.
Percebe que era bem aventurado e não sabia. Felizmente o jovem começa a raciocinar, a reconhecer a justiça e a bondade do Pai. Em toda a sua vida, ele nunca tinha enxergado o pai dessa forma. Antes enxergava apenas como alguém severo, mas agora seus olhos haviam sido abertos.
Ou será que você despreza as riquezas da sua bondade, tolerância e paciência, não reconhecendo que a bondade de Deus o leva ao arrependimento? Romanos 2:4
Ninguém o encontrou, ele mesmo caiu em si. Viu que estava quase morrendo de fome, perecendo. Finalmente reconheceu que não existe vida longe de Deus. Ainda que a pessoa longe de Deus esteja respirando, ainda que os sinais vitais estejam em ordem, espiritualmente ela já esta morta.
Não se enganem: A maioria das pessoas que vemos nas ruas estão mortas. Não fluem rios de águas vivas de seus interiores. Elas não creem em Cristo como está dito nas Escrituras, ou seja, a ponto de serem discípulas de Jesus e produzirem frutos do Espírito de Deus. Diz o Salmista: Estendo as minhas mãos para ti; como a terra árida, tenho sede de ti. Salmos 143:6
Em Mateus 8:22 Jesus diz para um discípulo que estava na dúvida em segui-lo naquele momento: “Mas Jesus lhe disse: “Siga-me, e deixe que os mortos sepultem os seus próprios mortos”. Não há tempo a perder.
Levantar-me-ei, e irei ter com o meu pai, e lhe direi: Pai, pequei contra o céu e diante de ti; Lucas 15:18
V.18: “Levantar-me-ei, e irei ter com o meu pai…” Quem está caído deve se levantar enquanto ainda é tempo. “Assim, aquele que julga estar firme, cuide-se para que não caia! 1 Coríntios 10:12.” Levantar é difícil. O estilo de vida o levou a queda. Em algumas versões: “Eu me porei a caminho e voltarei para meu pai…” Aquele que está seguindo o caminho errado, o caminho largo, deve corrigir a rota, antes que seja tarde demais.
O filho se envergonha do estado de miséria espiritual. Deve ter pensado: “O que eu fui fazer da minha vida”. Ele pretende encontrar o pai e dizer: “Pai, pequei contra o céu e diante de ti;” O arrependimento envolve a percepção de que fizemos mal não só as pessoas, mas que violamos também a Lei de Deus e o desonramos acima de tudo. Contra ti, só contra ti, pequei e fiz o que tu reprovas, de modo que justa é a tua sentença e tens razão em condenar-me. Salmos 51:4.
Deus quer nos guardar dessas situações lamentáveis, nos preservar da destruição. Mas muito interpretam, erroneamente, as leis e os mandamentos de Deus como proibições indesejáveis. Vejamos o estado dos esquerdistas, por exemplo, que acham que tudo é lícito: aprovam aborto, incesto, drogas, mudança de sexo, destruição da família, etc.
já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus trabalhadores. Lucas 15:19
V.19: Começa a ensaiar como voltar, achando que não mais seria recebido como filho. Voltar não é fácil, mas ele estava disposto a se humilhar. O arrependimento sincero humilha a pessoa, retirando-lhe o senso de merecer benção e, ao mesmo tempo, preservando alguma esperança na misericórdia divida.
O jovem se enxergava como indigno e estava disposto a ser tratado como um dos empregados. Para isso deveria percorrer uma longa jornada até a casa do pai. O interessante nessa jornada é que ele não perdeu o endereço da casa pai. Estava afastado, é verdade, mas ainda tinha o endereço.
Vemos que ele não se rebelou contra o Pai a ponto de perder a esperança da salvação. Antes não compreendia, era morno, iludido com as coisas do mundo. Não buscava o Reino dos Céus e a sua justiça. Mas agora não apenas buscava como prioridade absoluta, como também se humilhava para tanto.
E, levantando-se, foi para seu pai. Vinha ele ainda longe, quando seu pai o avistou, e, compadecido dele, correndo, o abraçou, e beijou. Lucas 15:20
V.20: O pai se compadece dele e o recebe. A salvação do Senhor flui de sua misericórdia afetuosa por pecadores miseráveis, que reconhecem a sua pobreza de espírito, a sua insuficiência, e buscam a redenção do Senhor com o coração contrito.
É necessário deixar de lado todo o ego e todo o orgulho. Se o jovem tivesse permanecido em sua vergonha, se não tivesse disposto a se humilhar perante o pai, ele morreria no chiqueiro, sem nunca mais se encontrar com o pai. Sabemos que o amor de Deus é imutável, mas Deus resiste aos soberbos.
Os sacrifícios que agradam a Deus são um espírito quebrantado; um coração quebrantado e contrito, ó Deus, não desprezarás. Salmos 51:17 Por isso diz a Escritura: “Deus se opõe aos orgulhosos, mas concede graça aos humildes” Tiago 4:6b
Importante notar que o pai avistou o filho que estava retornando. O pai nunca havia perdido o interesse no filho, e, uma vez ou outra, estava olhando o caminho à espera do dia em que o filho voltaria. O filho, quando partiu, achava que nunca mais voltaria para lá, mas o pai tinha esperança de que um dia ele estaria de volta; o que fica claro na reação do pai.
O texto bíblico diz que o pai se compadeceu profundamente. Ele correu para o filho. Naquela época um ancião não podia correr, pois soava indigno, mas para o pai o que importava era o filho a quem ele estava buscando no caminho. O pai o abraçou, não olhando para as condições em que seu filho estava se aproximando.
O filho estava rasgado, descalço, era a personificação da miséria, mas o pai só olhou o arrependimento e o coração quebrantado, transformado, e o acolheu em seus braços.
O pai também o beijou e o abraçou, antes de dizer uma única palavra. Demonstração de amor maravilhoso, graça incompreensível. E o filho lhe disse: Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho. Lucas 15:21
V.21: No versículo 21 vemos que o filho começa a fazer o discurso que havia ensaiado. Ele reconheceu o seu pecado, reconheceu a sua miséria, reconheceu que não tinha mérito algum e que não era digno de ser chamado de filho. Porém, algo que realmente merece nossa atenção é o fato de que ele não conseguiu dizer “faz de mim um de seus empregados”. O pai nunca deixou que ele dissesse essas palavras.
O jovem havia compreendido que o que fez não foi apenas um erro, foi um pecado. Ele havia pecado contra Deus e contra o pai. Ele compreendeu quão ingrato havia sido. Nesse momento aquele filho mais novo já não era mais o mesmo rapaz inconsequente que saiu da casa do pai. Ele havia sido transformado. Havia experimentado o novo nascimento pelo Espírito Santo. Em resposta, Jesus declarou: “Digo-lhe a verdade: Ninguém pode ver o Reino de Deus, se não nascer de novo.” João 3:3
O pai, porém, disse aos seus servos: Trazei depressa a melhor roupa, vesti-o, ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés trazei também e matai o novilho cevado. Comamos e regozijemo-nos, Lucas 15:22-23
Vs.22 e 23: Nos versículos 22 e 23 temos o relato de como o pai o recebe de volta ao lar. O pai queria dar ao filho a importância que ele não merecia, pois seu amor era imenso e inexplicável. O pai lhe providencia roupa, símbolo de honra; anel, um símbolo de autoridade; sandália, um símbolo de que ele não era um escravo. Aquele filho era um homem livre, pois o amor de seu pai o libertou.
O pai também manda preparar um bezerro cevado. Esse animal era um novilho guardado para ser usado somente em ocasião especial. Para o pai não havia ocasião mais especial do que aquela. Se decidirmos voltar em tempo hábil, Deus tem o melhor para nós. Somente Deus tem o melhor para as nossas vidas.
porque este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado. E começaram a regozijar-se. Lucas 15:24
V.24: Quando nos distanciamos de Deus, nós nos perdemos. Enquanto ele estava perdido, até o chiqueiro de porcos servia para ele. Quem tem um palácio, não precisa morar com os porcos. Essa mensagem fala de salvação, de reconciliação, do amor de Deus para com aqueles que o buscam. Devemos viver na plenitude do Pai, na presença do Pai, todos os dias de nossas vidas.
O versículo 24 possui um significado muito importante que, infelizmente, muitas pessoas não percebem. Notemos os contrastes: morto, vivo; perdido, achado.
A explicação dessas palavras é a seguinte: no sentido prático, o filho estava morto, pois havia recebido toda sua parte da herança. Ele não fazia mais parte da família. Ele também estava perdido, pois havia sido destruído em suas loucuras, e desperdiçado tudo o que lhe poderia sustentar durante a vida.
Porém há algo mais profundo. A palavra “morto” reflete o grau mais avançado de miséria e de decomposição. Morto não toma ação, não decide, não tem razão sobre si. Aquele filho estava morto e perdido, ou seja, ele estava no mais profundo estado de desgraça. Porém há uma boa notícia, uma notícia que explica a reação do pai.
O apóstolo Paulo escrevendo aos Efésios, ensina que: Ele vos vivificou, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, Efésios 2:1
No mesmo Evangelho de Lucas, o próprio Jesus declara: Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido. Lucas 19:10
O FILHO MAIS VELHO.
Ora, o filho mais velho estivera no campo; e, quando voltava, ao aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças. Chamou um dos criados e perguntou-lhe que era aquilo. E ele informou: Veio teu irmão, e teu pai mandou matar o novilho cevado, porque o recuperou com saúde. Ele se indignou e não queria entrar; saindo, porém, o pai, procurava conciliá-lo. Lucas 15:25-28
Vs.25 a 28: Entre os versículos 25 e 28 somos apresentados ao filho mais velho, ou seja, ao primogênito. Seu papel nesta parábola é tão importante quanto o papel do filho mais novo. O primogênito ilustra os escribas e fariseus que criticavam Jesus por receber pecadores e comer com eles. E também representa, nos dias atuais, os religiosos que apontam para os erros outros, mas que não estão verdadeiramente em Deus, pois buscam justificar a si mesmos.
Vemos que o mais velho nunca se afastou do pai, mas também nunca esteve próximo. Não havia uma relação intima, mas meramente formal. Podemos compará-lo a um religioso, que vive segundo as regras e protocolos de uma religião, mas sem ter experimentado o novo nascimento pelo Espírito de Deus. Ele sempre teve todo o amor de que precisava, mas não demonstrava amor em suas atitudes.
Conforme dito por intermédio do Profeta Isaías: O Senhor diz: Esse povo se aproxima de mim com a boca e me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. A adoração que me prestam é feita só de regras ensinadas por homens. Isaías 29:13
Se o filho mais novo se perdeu saindo de casa, o filho mais velho se perdeu dentro de casa. Então, mais uma vez o pai é quem saiu de casa para ir de encontro a um filho: “saindo, porém, o pai, procurava conciliá-lo”. Dessa vez ele foi encontrar o filho mais velho. Nas palavras do primogênito, vemos que ele encarava o relacionamento com o pai na base da recompensa, desconsiderando a graça.
Os fariseus e escribas estavam do lado de fora do banquete de Cristo com os pecadores arrependidos, da mesma forma em que o filho mais velho permanece fora da festa em sua ira e “justiça própria.” O pai abandonou a celebração numa tentativa de incluir seu filho mais velho, demonstrando, mais uma vez, seu espírito misericordioso e compassivo, da mesma forma como Jesus apelou aos fariseus.
Mas ele respondeu a seu pai: Há tantos anos que te sirvo sem jamais transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito sequer para alegrar-me com os meus amigos vindo, porém, esse teu filho, que desperdiçou os teus bens com meretrizes, tu mandaste matar para ele o novilho cevado. Lucas 15:29-30
Vs.29 e 30: Ele tinha direito a expressiva herança, mas estava preocupado com um simples novilho. Ele era filho, mas se enxergava como um empregado com anos de labor, ou seja, sem laço afetivo. No texto grego ele diz algo como: “estive trabalhando como escravo para ti”.
Assim, você já não é mais escravo, mas filho; e, por ser filho, Deus também o tornou herdeiro. Gálatas 4:7
Ele não tinha intimidade com o Pai. Não tinha real proximidade. A relação por parte do filho mais velho padecia do necessário vinculo afetuoso. Ele também tentava se autojustificar pelas obras dizendo: “nunca desobedeci tuas ordens”. Não entendia que de um filho se espera mais do que simples obediência.
Assim também vocês, quando tiverem feito tudo o que lhes for ordenado, devem dizer: “Somos servos inúteis; apenas cumprimos o nosso dever”. Lucas 17:10
É claro que a obediência é o nosso dever; mas devemos ir além. Deus busca verdadeiros adoradores, que tenham um coração contrito, um espírito quebrantado:
Os sacrifícios que agradam a Deus são um espírito quebrantado; um coração quebrantado e contrito, ó Deus, não desprezarás. Salmos 51:17
O primogênito só estava preocupado com as posses do pai, que, consequentemente, eram suas. Ele não amava o pai; apenas queria a sua fortuna. Repare que ele não se preocupou com a dor do pai, quando este ficou sem o filho mais novo. Nem mesmo se preocupou com o irmão que se foi, pois, como mais velho, ele poderia ter ido buscá-lo.
Esse filho estava mesmo preocupado com a herança. Perceba que ele diz friamente “esse teu filho”, ao invés de dizer “esse meu irmão”, o que revela um coração de pedra e não um coração de carne. Ele era um estranho dentro de casa.
Então, lhe respondeu o pai: Meu filho, tu sempre estás comigo; tudo o que é meu é teu. Entretanto, era preciso que nos regozijássemos e nos alegrássemos, porque esse teu irmão estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado. Lucas 15:31-32
Vs.31 e 32: A resposta do pai nos versículos 31 e 32 estabelece um tremendo contraste. O pai se dirige a ele dizendo “meu filho”. No original grego a expressão utilizada aqui significa algo como “meu menino”, transmitindo um sentido mais afetuoso.
O pai também usa a expressão “esse seu irmão”, ou seja, o pai o coloca como membro da família, além de demonstrar que havia considerado como justo o filho mais novo.
As palavras finais do pai na parábola são as palavras de Cristo dirigida aos fariseus (e a todos os religiosos hipócritas no nosso tempo), explicando porque eles não deveriam criticar sua graça demonstrada aos pecadores arrependidos, mas sim unir-se a eles.
Não podemos ir além das Escrituras, mas a parábola termina com o filho mais novo participando da festa na casa do pai, e com o filho mais velho, indignado, do lado de fora. A parábola é concluída sem mostrar o filho mais velho retornando à casa do pai para se alegrar com seu irmão que voltou.
LIÇÕES FINAIS E REFLEXÕES
1) Como o filho pródigo, nosso pecado nos faz abandonar Deus, tomar as suas dádivas e usá-las para o nosso próprio deleite. Isso somente nos trará necessidades e miséria. E, se não nos arrependermos a tempo, trará também a condenação ao lago de fogo.
2) A postura do nosso coração, em relação ao fato de pecadores arrependidos serem salvos, indica se nós mesmos experimentamos ou não a graça de Deus. Os fariseus, semelhantes ao filho mais velho, permaneceram longe da celebração, pois seus corações continuavam fechados para a graça de Deus, crendo na “justiça própria.”
“Sabendo que o homem não é justificado pela prática da lei, mas somente pela fé em Jesus Cristo; nós também cremos em Jesus Cristo, e que a nossa justificação vem da fé em Cristo, e não pelas obras da lei, porquanto, pela prática da lei nenhuma carne será justificada. Porém, se enquanto procuramos ser justificados por Cristo, nós mesmos também formos achados pecadores, por acaso seria Cristo o ministro do pecado? De forma alguma.” Gálatas 3:16,17
3) Nunca poderíamos ir para casa do Pai sem um caminho que nos levasse até lá. Jesus é esse caminho. A graça nos é concedida pelos méritos de Cristo, pela obra redentora de Cristo na cruz. Respondeu Jesus: Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, a não ser por mim. João 14:6
4) Qual tem sido a nossa posição para com os perdidos? Aqui temos uma importante lição. Diante dos perdidos podemos assumir algumas atitudes diferentes: podemos odiá-los; tratá-los com indiferença; recebê-los quando vierem até nós; ou buscá- los.
5) Como seguidores de Cristo, cidadãos do reino de Deus, qual tem sido a nossa atitude? Estamos mais parecidos com Jesus ou com os fariseus e doutores da Lei?
6) Como estamos nos comportando? Será que somos como o filho mais novo ou como o filho mais velho? O filho mais novo apenas queria sua parte na herança, e a maneira que ele achou para conseguir isso foi sendo ruim, se afastando e indo embora. O filho mais velho, por sua vez, também só estava interessado na herança, e a forma que ele achou para consegui-la foi ficando em casa, sendo “justo e merecedor” aos seus próprios olhos. A ruína do filho mais novo foi sua precipitação, inconsequência, insensibilidade e desobediência. A ruína do filho mais velho foi a relação pautada no interesse, na falta de sensibilidade.
7) Como o filho mais velho, esses religiosos tentavam se autojustificar. Eles se achavam bons de mais, a ponto de entenderem que pessoas como eles nunca poderiam ser privados do paraíso. Hoje, muitas pessoas se comportam como o filho mais velho. Elas não faltam aos cultos, são obedientes, oram, jejuam, cantam hinos, dão glória a Deus, etc. Porém nada é verdadeiro. Essas pessoas pensam que a religiosidade irá salvá-las. Contudo, a salvação é pelo poder transformador do Espírito Santo, que convence do pecado, da justiça e do juízo, por intermédio de Cristo, tal como ocorreu com o filho mais novo.