A parábola do construtor da torre e do rei guerreiro em Lucas 14:28-33 e entenda o verdadeiro custo do discipulado e a importância de planejar antes de seguir a Cristo. Neste estudo, vamos entender o significado profundo dessas palavras de Jesus e como aplicá-las na vida cristã.
Na realidade se tratam de duas parábolas, porém ambas estão ligadas de modo que uma complementa a outra. A primeira parábola (Lucas 14:28,30) também é conhecida como “Parábola da Torre Inacabada.” Vamos a leitura de ambas:
“Qual de vocês, se quiser construir uma torre, primeiro não se assenta e calcula o preço, para ver se tem dinheiro suficiente para completá-la?
Pois, se lançar o alicerce e não for capaz de terminá-la, todos os que a virem rirão dele,
dizendo: ‘Este homem começou a construir e não foi capaz de terminar’.
“Ou, qual é o rei que, pretendendo sair à guerra contra outro rei, primeiro não se assenta e pensa se com dez mil homens é capaz de enfrentar aquele que vem contra ele com vinte mil?
Se não for capaz, enviará uma delegação, enquanto o outro ainda está longe, e pedirá um acordo de paz.
Da mesma forma, qualquer de vocês que não renunciar a tudo o que possui não pode ser meu discípulo. Lucas 14:28-33
CONSIDERAÇÕES INICIAIS:
Essas duas parábolas se encontram exclusivamente no evangelho de Lucas. Foram contadas, por Jesus, em sua última viagem partindo da Galileia para Jerusalém. Durante esse período Jesus esteve acompanhado por grandes multidões.
Aquele povo acreditava que, quando chegassem a Jerusalém, Jesus iria estabelecer o Seu reino e subjugar o Império Romano. Além dos milagres de curas e multiplicações dos pães, essa era a maior motivação das pessoas em acompanhá-lo na longa jornada até a cidade Santa.
Contudo, o Messias não estava se dirigindo para Jerusalém para ocupar um trono terrestre em sua primeira vinda. Antes, Ele estava se dirigindo para tal destino sabendo que seria preso, julgado, e condenado a morte de cruz.
Portanto, o propósito era contrário ao que o povo pensava. Eles não imaginavam que Ele seria executado no Calvário, embora Ele próprio tenha dito anteriormente aos discípulos, além de tais fatos estarem constando das Escrituras.
E disse: “É necessário que o Filho do homem sofra muitas coisas e seja rejeitado pelos líderes religiosos, pelos chefes dos sacerdotes e pelos mestres da lei, seja morto e ressuscite no terceiro dia”. Lucas 9:22
Reunindo-se eles na Galiléia, Jesus lhes disse: O Filho do homem será entregue nas mãos dos homens. Eles o matarão, e no terceiro dia ele ressuscitará. E os discípulos ficaram cheios de tristeza. Mateus 17:22-23
Jesus, então, conta essas duas parábolas para as multidões que o seguiam com o objetivo de alertá-las acerca do verdadeiro custo do discipulado. Elas precisavam saber quais seriam as implicações, caso decidissem dedicarem as suas vidas a servirem Jesus.
EXPLICAÇÃO:
Na primeira parábola Jesus supõe a construção de uma torre, provavelmente tendo como cenário uma propriedade rural, como era comum naquela época.
Considerando a ênfase dada ao custo da torre, é possível que fosse para armazenagem de ferramentas e suprimentos, e que também pudesse ser utilizada como residência temporária. O que se sabe é que, naquele tempo, possuir uma torre em seu campo representava mais prestigio para o dono, além de valorização da sua propriedade.
Todavia, Jesus ensina que se não for feito um planejamento correto dos custos da construção, os recursos poderão acabar antes que o empreendimento seja concluído.
Neste caso, todo o respeito, prestígio e valorização que a torre poderia trazer em nada resultaria. E pior, o construtor ganharia a fama de incompetente, diante de sua incapacidade para terminar a obra iniciada, e certamente seria alvo de zombaria.
Não pensar no ônus de ser discípulo de Cristo trará vergonha e mau testemunho, da mesma forma que o construtor da torre deveria primeiro se assentar e verificar se teria recursos suficientes para completá-la. A Bíblia nos mostra que existe um “custo” para seguir Jesus, que engloba a necessidade de renúncia:
Então Jesus disse aos seus discípulos: Se alguém quiser acompanhar-me, negue- se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida, a perderá, mas quem perder a sua vida por minha causa, a encontrará. Pois, que adiantará ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Ou, o que o homem poderá dar em troca de sua alma? Mateus 16:24-26
Já na Parábola do Rei Guerreiro, Jesus fala da avaliação estratégica que deve ser feita por um rei antes de entrar em batalha, a fim de analisar se, com seu exército de 10 mil soldados, poderá ou não enfrentar um exército que possui o dobro do tamanho.
Essa avaliação precisa ser muito honesta e sincera para que, se caso julgar não ter condições de enfrentar seu oponente, o rei pudesse enviar uma comissão de embaixadores para apresentar um acordo de paz, antes que o exército inimigo viesse até ele. Assim, não apenas seus recursos seriam poupados, mas a vida de seus homens também.
LIÇÕES:
Na Parábola do Construtor da Torre a lição é bem clara: Planeje e avalie o custo antes de agir. E na segunda parábola a lição é: Avalie as possibilidades de sucesso, tome uma ação e esteja disposto a ceder, se necessário for.
Entretanto, quando colocamos essas duas parábolas como partes de um mesmo ensino, podemos perceber uma importante verdade. Na primeira o fazendeiro precisa tomar uma decisão, isto é, ele pode ou não fazer a torre.
Na segunda o rei também precisa tomar uma decisão, porém ele não tem a liberdade do fazendeiro. Ele obrigatoriamente precisa agir, ou seja, ou vai à guerra ou cede um acordo de paz.
Precisamos lembrar que Jesus pronunciou essas palavras para uma multidão infestada de seguidores superficiais.
Num primeiro momento essas pessoas aparentavam desfrutar de uma liberdade de ação, isto é, construir ou não construir? Buscar verdadeiramente o Reino de Deus e a sua justiça, ou continuar sonhando com um reino terreno? Se apoiar no fato de terem comido do maná no deserto, ou comer do verdadeiro Pão enviado por Deus? (João 6:48-50).
Contudo, o ensino prossegue e Jesus mostra que não existe a possibilidade da neutralidade, ensinando, então, três princípios: (1) É preciso ponderar e planejar antes de tomar a ação. (2) Mas é necessário que a ação seja tomada. (3) Porém, é preciso partir para a direção certa, perseverar até o final (combater o bom combate), e estar disposto a ceder, se necessário for.
Essas pessoas precisavam ser confrontadas, precisavam entender que não poderiam permanecer como estavam. Elas tinham que saber o que realmente significava ser um discípulo do Senhor.
Nesse mesmo capítulo Jesus repete três vezes a sentença “não pode ser meu discípulo” (vs. 26,27,33), ressaltando que não era qualquer um que poderia segui-lo.
Com a Parábola do Construtor da Torre, Jesus enfatiza que seus seguidores precisam compreender que segui-lo é comparável a um projeto que exige grande investimento e perseverança. Por isso é preciso avaliar e refletir sobre o que verdadeiramente é ser um cristão.
Mas aquele que ouve as minhas palavras e não as pratica, é como um homem que construiu uma casa sobre o chão, sem alicerces. No momento em que a torrente deu contra aquela casa, ela caiu, e a sua destruição foi completa. Lucas 6:49
Na segunda parábola Ele ensina que a real compreensão desse assunto conduz seus seguidores a autonegação e a capacidade de ceder e a renunciar a tudo e a todos por causa do Evangelho.
“Da mesma forma, qualquer de vocês que não renunciar a tudo o que possui não pode ser meu discípulo.” Lucas 14:33
Em outras palavras, o ensino dessas duas parábolas mostra que Jesus não precisa de seguidores que não estejam completamente comprometidos com sua causa. Ele não quer parte com aqueles que apenas o chamam de Senhor e Lhe honram com os lábios.
Por que vocês me chamam “Senhor, Senhor” e não fazem o que eu digo? Lucas
6:46 / “Este povo me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. Mateus 15:8
Estes são como as sementes que caem nos lugares rochosos na Parábola do Semeador. Eles se empolgam, crescem rápido, mas não possuem raízes. Quando são submetidos a provações ou perseguições acabam desistindo. (Mateus 13:20,21).
O problema é que, quando isso ocorre, a condição dessas pessoas passa a ser pior do que antes. Elas irão viver com a vergonha da derrota e da incapacidade, sem ter onde depositar as suas esperanças. Tentar construir a torre e não terminá-la acarreta sérios problemas e prejuízos para o fazendeiro, que se torna objeto de ridículo. De igual modo, o prejuízo de uma batalha inconsequente é irreversível.
Por isso que é muito apropriada a conclusão desse mesmo Capítulo 14, na qual Jesus fala sobre a inutilidade do sal insípido, ou seja, o sal que não tem sabor.
“O sal é bom, mas se ele perder o sabor, como restaurá-lo? Não serve nem para o solo nem para adubo; é jogado fora. “Aquele que tem ouvidos para ouvir, ouça”. Lucas 14:34,35
Vocês são o sal da terra. Mas se o sal perder o seu sabor, como restaurá-lo? Não servirá para nada, exceto para ser jogado fora e pisado pelos homens. Mateus 5:13
Jesus claramente afirmou que esse tipo de sal não serve para mais nada, ou seja, assim como: (a) o vexame da desastrosa construção da torre inacabada não pode ser apagado da mente das pessoas; (b) as vidas perdidas não podem ser recuperadas, após uma decisão equivocada que conduziu a uma guerra fracassada; (c) o sal que perdeu o sabor não pode mais ser restaurado; (d) da mesma forma é impossível reconduzir aqueles que caíram depois que tiveram conhecimento da verdade e se fizeram participantes do Espírito Santo:
Porque é impossível que os que já uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se fizeram participantes do Espírito Santo, E provaram a boa palavra de Deus, e as virtudes do século futuro, E recaíram, sejam outra vez renovados para arrependimento; pois assim, quanto a eles, de novo crucificam o Filho de Deus, e o expõem ao vitupério. Hebreus 6:4-6
Muitas pessoas que parecem comprometidas com o Evangelho caminham entre a multidão que segue o Senhor, mas acabam se revelando como construtores imprudentes e reis insensatos. Para estes, resta apenas uma terrível expectativa de juízo e de fogo intenso que consumirá os inimigos de Deus, conforme Hebreus 10:27.
Por isso, sejamos como o homem prudente que constrói a sua casa sobre a rocha: Eu lhes mostrarei com quem se compara aquele que vem a mim, ouve as minhas palavras e as pratica. É como um homem que, ao construir uma casa, cavou fundo e colocou os alicerces na rocha. Quando veio a inundação, a torrente deu contra
aquela casa, mas não a conseguiu abalar, porque estava bem construída. Lucas 6:47-48
Se permanecermos em Cristo não seremos abalados e daremos muitos frutos:
“Eu sou a videira; vocês são os ramos. Se alguém permanecer em mim e eu nele, esse dá muito fruto; pois sem mim vocês não podem fazer coisa alguma. Se alguém não permanecer em mim, será como o ramo que é jogado fora e seca. Tais ramos são apanhados, lançados ao fogo e queimados. Se vocês permanecerem em mim, e as minhas palavras permanecerem em vocês, pedirão o que quiserem, e lhes será concedido. Meu Pai é glorificado pelo fato de vocês darem muito fruto; e assim serão meus discípulos. “Como o Pai me amou, assim eu os amei; permaneçam no meu amor. Se vocês obedecerem aos meus mandamentos, permanecerão no meu amor, assim como tenho obedecido aos mandamentos de meu Pai e em seu amor permaneço. João 15:5-10
E você, compreende o que realmente é ser um seguidor de Cristo? Está disposto segui-lo até o final? Nós, porém, não somos dos que retrocedem e são destruídos, mas dos que creem e são salvos. Hebreus 10:39
Assim, da mesma forma como Cristo ressuscitou dentre os mortos, nós ressuscitaremos com Ele na glória!