A parábola do rico e do Lázaro é uma das mais impactantes narrativas contadas por Jesus em Lucas 16. Mais do que uma história sobre morte e vida após a morte, essa parábola traz lições espirituais profundas sobre justiça divina, orgulho religioso, salvação e a inclusão dos gentios no plano de Deus.

O verdadeiro significado da parábola do rico e do Lázaro, ensinada por Jesus em Lucas 16. Entenda a interpretação bíblica, o contraste entre judeus e gentios e a mensagem espiritual para os dias de hoje.
O Senhor Jesus ensinava por parábolas, especialmente a partir de um ponto, em Seu ministério, em que o povo endureceu o coração e começou a Lhe ouvir de mal grado. Conforme Mateus 13:34:
Jesus falou todas estas coisas à multidão por parábolas. Nada lhes dizia sem usar alguma parábola, Mateus 13:34
Era também um método comparativo de se ensinar. Uma parábola é uma alegoria e não é um fato real, motivo pelo qual não podemos dar interpretação literal. Vejamos como exemplo a parábola do trigo e do joio, na qual Jesus, após ser indagado pelos discípulos, explica o significado de cada coisa, nada sendo literal:
E ele, respondendo, disse–lhes: O que semeia a boa semente, é o Filho do homem; O campo é o mundo; e a boa semente são os filhos do reino; e o joio são os filhos do maligno; O inimigo, que o semeou, é o diabo; e a ceifa é o fim do mundo; e os ceifeiros são os anjos. Mateus 13:37-39
Exatamente o mesmo ocorre com a parábola do rico e do Lázaro e com todas as demais.
O RICO, LÁZARO E ABRAÃO, QUEM ELES REPRESENTARAM: A parábola é caracterizada por um forte contraste entre “certo homem rico que se vestia de púrpura e de linho finíssimo, e todos os dias se regalava esplendidamente” (Lucas 16:19) e certo “mendigo, chamado Lázaro, coberto de chagas, o qual desejava alimentar-se com as migalhas que caiam da mesa do rico; e os próprios cães vinham lamber-lhe as chagas” (Lucas 16:20-21).
Com esta narrativa, Jesus pretendia repreender as classes dominantes judaicas, especialmente os fariseus, “que eram gananciosos”: Os fariseus, que amavam o dinheiro, ouviam tudo isso e zombavam de Jesus. Lucas 16:14. Os saduceus que faziam pouco caso da esperança messiânica e não acreditavam na ressurreição: Depois os saduceus, que dizem que não há ressurreição, aproximaram-se dele com a seguinte questão: Marcos 12:18. E os escribas que impunham fardos pesados e difíceis de serem suportados pelo povo, presos às suas tradições. Vocês negligenciam os mandamentos de Deus e se apegam às tradições dos homens”. Marcos 7:8
Os relatos bíblicos indicam que os escribas e fariseus julgavam-se mais dignos do favor divino e por isso foram considerados os mais desgraçados espiritualmente aos olhos de Deus, como vemos em Mateus 23. O homem rico é uma representação desses judeus nominais, mergulhados no orgulho farisaico, que seguiam rigorosamente suas tradições, sem demonstrarem amor para com o próximo. Os judeus deveriam ser depositários dos oráculos divinos e uma luz para os gentios de todas as nações.
ele diz: “É coisa pequena demais para você ser meu servo para restaurar as tribos de Jacó e trazer de volta aqueles de Israel que eu guardei. Também farei de você uma luz para os gentios, para que você leve a minha salvação até aos confins da terra“. Isaías 49:6
Pois assim o Senhor nos ordenou: ‘Eu fiz de você luz para os gentios, para que você leve a salvação até aos confins da terra”. Atos 13:47

Os reis da Terra deveriam caminhar vendo a glória de Deus sobre eles, conforme Isaías 60:3.
Contrariando os propósitos de Deus, os judeus partilhavam de um excessivo orgulho nacional e julgavam-se salvos pela indisputável condição de serem considerados “filhos de Abraão”. Eles possuíam uma incalculável riqueza de cunho espiritual. Sobre eles repousavam as bênçãos e promessas de Deus, mas, infelizmente, eles as empregavam egoistamente para a sua própria honra.
Por não terem desempenhado dignamente suas responsabilidades, Jesus disse que o Reino de Deus lhes seria tirado e dado a uma nação que produzisse os devidos frutos:
Jesus lhes disse: “Vocês nunca leram nas Escrituras? ‘A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular; isso vem do Senhor, e é algo maravilhoso para nós’. “Portanto eu lhes digo que o Reino de Deus será tirado de vocês e será dado a um povo que dê os frutos do Reino. Mateus 21:42,43
Por outro lado, Lázaro, o outro personagem desta narrativa de Jesus, era um mendigo que desejava alimentar-se das migalhas que caíam da mesa do rico. Especificamente nesta parábola Lázaro representava os gentios, uma classe marginalizada pelos líderes judeus.
Diante dos abastados judeus; falando-se espiritualmente; os gentios viviam de “migalhas”, pois eram tratados com indiferença. De acordo com Mateus 15:21-28, o Senhor Jesus não queria operar o milagre a uma mulher Cananéia, dizendo que não seria bom tirar o pão dos filhos e dar aos cachorrinhos, significando que Ele tinha vindo apenas para as ovelhas perdidas da casa de Israel e não para os gentios.
Contudo, a mulher replica dizendo que os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus senhores, significando que ela não queria tudo, mas apenas um único favor do Senhor. O Senhor Jesus, vendo sua fé, fez o que ela pediu. Assim viviam os gentios, desejando as migalhas das promessas feitas aos filhos de Israel. Assim era o Lázaro da parábola, que “desejava alimentar–se com as migalhas que caíam da mesa do rico”; ou seja, uma representação do povo gentio, como a mulher Cananéia.
Lembrando, ainda, que “Lázaro”, tal como “rico”, não foi utilizado na parábola como nome próprio para identificar uma pessoa específica. Origina-se a partir do grego Eleázaros, o mesmo que Eleazar, nome originado no hebraico Elazar, através da união dos elementos El que significa “Deus, Senhor” e ézer, que quer dizer “socorro” e significa “Deus socorreu, Deus ajudou”.
Ou seja, estamos diante do socorro de Deus, das promessas de Deus, passando dos filhos de Israel para os gentios.
E Abraão, o que ele faz nesta parábola? Para o povo judeu o patriarca Abraão é muito respeitado e considerado o pai da fé. Com exclusividade todo judeu diz ser filho de Abraão e herdeiro da promessa. No entanto, o Senhor Jesus passa a ensinar uma preciosa lição a estes que se consideravam exclusivistas. Nesta narrativa o mendigo
Lázaro foi levado pelos anjos ao seio de Abraão, que é uma representação dos gentios que aceitaram a Jesus, os quais participarão das mesmas bênçãos de Abraão. Sobre esse assunto o apóstolo Paulo escreveu o seguinte:
Estejam certos, portanto, de que os que são da fé, estes é que são filhos de Abraão. Prevendo a Escritura que Deus justificaria pela fé os gentios, anunciou primeiro as boas novas a Abraão: “Por meio de você todas as nações serão abençoadas”. Assim, os que são da fé são abençoados juntamente com Abraão, homem de fé. Gálatas 3:7-9

PARÁBOLA? OU FATO REAL: Esta narrativa não é um relato literal, senão a situação se tornaria um tanto quanto indesejável, pois, o lugar onde estarão os justos (seio de Abraão) e o lugar onde estarão os ímpios (hades) seriam espaços tão próximos que os ímpios poderiam enxergar os justos e também conversar com eles. Certamente não seria um lugar de alegria e felicidade, pois os salvos poderiam acompanhar de perto os infindáveis sofrimentos de seus entes queridos que se perderam.
Esta parábola não pode ser interpretada literalmente, caso contrário ela estaria em contradição com as Escrituras Sagradas quanto à inconsciência dos mortos até o dia da ressurreição (Jó 14:10-12; Salmos 6:4-5; Eclesiastes 9:5, 6 e 10). Diz o relato bíblico que tanto o Rico e o Lázaro morreram (Lucas 16:22). Enquanto morto, o Rico começa a dialogar com Abraão, o qual também morreu e ainda não foi ressuscitado (Hebreus 11:8-10 e 13).
Se alguém quiser “provar” por meio desta parábola que os mortos falam e estão conscientes, com certeza terão muita dificuldade em explicar a parábola das árvores que “foram uma vez a ungir para si um rei” e mantiveram entre si uma conversação (ver Juízes 9:7-15; 2 Reis 14:9). Por que não tentar provar por essa parábola que as árvores falam e que elas têm reis? Como essa parábola é figurativa, assim também o é a parábola do Rico e do Lázaro.
Há nesta narrativa outro aspecto que nos leva a aceitar que a mesma não é literal: Se o “seio de Abraão” é o lugar para onde vão os salvos por ocasião da morte, para onde foram aqueles que morreram antes de Abraão?
A parábola não tem o objetivo de revelar o que acontece após a morte, mas confirmar que as instruções dadas por Deus na Sua Palavra são suficientes para nos conduzir à salvação. Quando o rico pediu a Abraão que mandasse Lázaro à casa de seu pai a fim de avisar os seus cinco irmãos quanto ao inferno, Abraão respondeu: “Têm Moisés e os profetas; ouçam-nos.”
Moisés e os profetas, ou seja, a Torá (ou pentateuco), e os Livros que se seguem na Tanakh, seriam os guias seguros para os vivos, concernentes ao seu destino após a morte. Para obter a vida eterna, o ser humano precisa viver em conformidade com a vontade de Deus revelada através de Moisés e os profetas, que apontavam para Cristo, ou seja, através os ensinamentos das Sagradas Escrituras.
CONCLUSÃO: Não há dúvidas de que esta parábola foi apresentada pelo Senhor Jesus com o objetivo de esclarecer algumas questões espirituais muito importantes:
(i) Que o destino eterno de cada pessoa é decidido nesta vida e jamais poderá ser revertida na era vindoura; (ii) Que o destino eterno de cada pessoa é determinado pelo uso que ela faz das riquezas espirituais recebidas de Deus; (iii) Que o Abraão da parábola, ao afirmar que os cinco irmãos do rico têm “Moisés e os profetas”, deixou evidente a necessidade de cada pessoa ter uma vida em conformidade com a vontade de Deus, através dos ensinamentos das Escrituras em sua totalidade; (iv) Os cinco irmãos representam as cinco principais seitas judaicas da época: 1) fariseus, 2) saduceus, 3) escribas, 4) essênios e 5) zelotes.

Quando Cristo apresentou a parábola do rico e Lázaro, muitos judeus viviam na condição lastimosa do rico, usando os bens espirituais que Deus havia lhes dado para a própria satisfação egoísta. Eles colocavam tradições humanas acima dos mandamentos, matavam os profetas, e estavam rejeitando o próprio Messias.
Como resultado da infidelidade deles, Jesus disse que o reino de Deus lhes seria tirado e dado a uma nação que produzisse os devidos frutos (Mateus 21:42-46). Isto mostra o endurecimento de Israel e a entrada dos gentios no plano da salvação.
Então Paulo e Barnabé lhes responderam corajosamente: “Era necessário anunciar primeiro a vocês a palavra de Deus; uma vez que a rejeitam e não se julgam dignos da vida eterna, agora nos voltamos para os gentios. Atos 13:46
Este endurecimento está cedendo nos dias atuais. Israel é a Figueira de Mateus 24:32, cujos “ramos se renovam e suas folhas começam a brotar”; o que vem se cumprindo com crescimento do número de judeus que creem em Jesus (Yeshua). E tal endurecimento cessará na volta do Senhor Jesus, como vemos em Zacarias 12 e Romanos 11.
Assim, cumprindo os propósitos de Deus, judeus e gentios, que recebem a Jesus, passam a ser “descendência de Abraão, e herdeiros conforme a promessa.” Gálatas 3:29.

 
	 
						 
						